de Carlos Serra
de 05 a 31 de Julho
A história revela que a origem do plástico remonta a 1860, quando o inglês Alexandre Pakers iniciou os seus estudos com o nitrato de celulose, espécie de resina que recebeu a designação de “Parkesina”, matéria utilizado em estado sólido, tendo como características principais flexibilidade, resistência a água, cor opaca e fácil pintura . Dois anos depois, em 1862, no decurso da Exposição Internacional de Londres, Pakers apresentou as suas primeiras amostras, consideradas como antecessoras da matéria-plástica, ponto central da grande família de polímeros.
O homem inventou o plástico, solução milagrosa para as mais diversas aplicações: ele constitui componente do nosso vestuário, dos electrodomésticos, dos automóveis e das aeronaves, dos mais diversos utensílios de cozinha e de jardim, das embalagens que acondicionam os mais diversos bens alimentares, do mobiliário para interiores e exteriores, das ligações para água, energia e telecomunicações, das embalagens dos mais diversos consumíveis, entre muitas.
Nos últimos anos produzimos e descartámos quantidades simplesmente colossais de uma matéria que não existia, enquanto tal, na Natureza. O plástico representa de forma bastante expressiva a sociedade de consumo que depressa se tornou modelo hegemónico de estar ao nível planetário.
Em 2015, um estudo da autoria da Associação Educacional do Mar de Woods Hole, no Estado norte-americano de Massachussetts, revelou que são lançados anualmente nos oceanos cerca de oito milhões de toneladas de lixo plástico e seus derivados, quantidade esta que daria para cobrir 34 vezes toda a superfície da ilha norte americana de Manhattan, com uma camada de lixo à altura dos joelhos de uma pessoa.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (UNEP), 15 por cento do lixo marinho flutua à superfície ou está na coluna de água (a mais de 40 centímetros de profundidade), sendo que os restantes 70 por cento estão depositados no fundo dos oceanos, muitos deles fragmentados em pedaços tão pequenos (pellet e fibras sintéticas) que não são captados pelas análises convencionais.
O anúncio mais alarmante aconteceu durante o Fórum Económico Mundial de Davos, quando a organização anunciou, a 19 de Janeiro de 2016, que a utilização de plásticos é de tal ordem que os oceanos conterão mais resíduos de plástico do que peixes no ano de 2050. Segundo o Comunicado, “o sistema actual de produção, utilização e descarte de plásticos tem efeitos negativos importantes: de 80 a 120 biliões de dólares de embalagens plásticas são perdidos anualmente. E além do custo financeiro, sem nada em troca, os oceanos terão mais plástico do que peixes (em peso) até 2050”. Este comunicado baseou-se num estudo intitulado The New Plastics Economy ("A Nova Economia do Plástico"), elaborado pela Fundação Ellen MacArthur e a empresa consultoria McKinsey. Segundo o referido estudo, a proporção de toneladas de plástico por toneladas de peixes era de uma para cinco em 2014, será de uma para três em 2025 e vai ultrapassar uma para uma em 2050.
75% do total de resíduos encontrados nos oceanos é de plástico, com outros materiais como vidro e metal representando
apenas uma pequena proporção de lixo nos oceanos. Quase 700 espécies são conhecidas por encontrarem lixo marinho, com muitos relatos de danos físicos resultantes do emaranhamento e da ingestão de resíduos plásticos. Em 2004, Richard Thompson , cientista e biólogo marinho britânico, da Plymouth University, e a sua equipa, foram os primeiros a descrever os minúsculos fragmentos de plástico como micro-plásticos, em estudo publicado para a revista Science.
Algumas das partículas tinham menos de um milímetro de espessura, o mesmo tamanho de organismos vivos presentes na amostra - fitoplâncton (organismos vegetais) e zooplâncton (organismos animais). Segundo Thompson, “há duas preocupações do ponto de vista
toxicológico: há o facto de que plásticos são conhecidos por absorver e concentrar substâncias químicas da água do mar. E a segunda questão diz respeito a substâncias químicas que foram introduzidas nos plásticos desde o momento da fabricação para a obtenção de qualidades específicas, como flexibilidade, ou substâncias retardadoras de chama e anti-microbianas”. Calcula-se que haja mais de cinco triliões de pedaços de micro-plástico nos oceanos do mundo, sendo que, a cada minuto, é adicionado ao mar o equivalente a um camião de resíduos de plástico.
No princípio de 2017, um estudo realizado pela Universidade de Ghent, Bélgica, foi tornado público, revelando o impacto que a ingestão de produtos marinhos cada vez mais impregnados de partículas de plástico possa estar a ter na saúde humana. Segundo o estudo, o primeiro do género, liderado pelo Professor Colin Janssen, os consumidores de produtos do mar ingerem até 11 mil pequenos pedaços de plástico todos os anos, com dezenas de partículas sendo incorporadas nos tecidos, dando-se a acumulação de micro-plásticos no corpo ao longo do tempo, com potenciais implicações para a saúde humana a longo prazo. Calcula--se que mais de 99 por cento dos micro-plásticos passam pelo corpo humano, sendo o resto absorvido pelos tecidos corporais.
Com a presente exposição pretende-se fundamentalmente elevar a consciência ambiental dos cidadãos, através de uma abordagem baseada no
estudo de caso sobre o plástico. Constituem objectivos específicos:
I. Demonstrar o impacto que os resíduos de plástico tem vindo a causar, ano após ano, nos oceanos e nas nossas vidas;
II. Demonstrar, através da utilização de um artigo de plástico (a tampa), o enorme e diversificado potencial de aplicações.
A exposição está organizada em duas componentes principais:
- a amostra de artigos colectados em várias praias do País, devidamente organizada em categorias, e a exposição de quadros
com tampinhas de plástico.
i. Amostra de objectos de plástico – Na primeira componente da Exposição o visitante é convidado a contemplar um conjunto variado de objectos de plástico, criteriosamente organizados em categorias e tamanhos, recolhidos ao longo de cerca de seis meses, em oito praias do país (Wimby, Chocas,
Beira, Tofo, Bilene, Macaneta, Maputo, Dobela e Ponta do Ouro). As categorias foram criadas em relação aos objectos de plástico reconhecíveis, independentemente do grau de degradação, incluindo: escovas de dentes, isqueiros, brinquedos, palhinhas, palitos, molas de roupa, pentes, canetas,
tampas de caneta, calçado, cordas, capacetes, garrafas PET, tampas, cabides, talheres. No que toca aos objectos não reconhecíveis, procurou-se mostrar o processo de degradação e desintegração dos objectos maiores em pedaços cada vez mais pequenos, culminando nas partículas de micro-plástico.
ii. Exposição de tampas de plástico – A segunda componente é composta por cerca de 22 quadros elaborados com recurso e aproveitamento de tampas de garrafas de plástico dos mais diversos tamanhos e cores. Foi escolhido um dos objectos descartáveis mais abundantes no ambiente – a tampa de
embalagens PET. Pelas suas características e pelo comportamento dos consumidores, uma quantidade enorme de tampas não chega a conhecer um destino final adequado (reciclagem, lixeira ou aterro), terminando nas valas de drenagem, mangais e mares. Os quadros foram o resultado de
cerca de dois anos de trabalho, para o qual foram recolhidas dezenas de milhar de tampas de todas as cores, provenientes de embalagens de água, sumo, refrigerante, leite, iogurte, óleo vegetal e mineral, vinagre, piri-piri, pasta dentífrica. Grande parte das tampas foram obtidas na sequência da
realização de campanhas de limpeza, com destaque para a praia de Maputo. Os quadros retractam fundamentalmente aspectos ambientais e sociais do quotidiano nacional e são o resultado de vivências e experiências do autor.
As receitas da venda dos quadros reverterão para a Cooperativa de Educação Ambiental Ntumbuluku, para financiar programas de educação ambiental nas escolas, incluindo a correcta gestão de resíduos, a instalação de clubes e oficinas ambientais e a consciencialização sobre a importância da conservação
ambiental.