Exposição Colectiva de Dito Tembe, Eliane Monnier (Suiça), Matxakhosa e Fornasini
de 05 a 30 de Setembro
A ÁGUA COMO PRETEXTO!
É ponto assente que a água não se limita apenas a matar a sede dos viventes, a desempoeirar corpos espurcos, a servir de ponte entre continentes e culturas, ou a levar o húmus aos campos que fazem brotar e medrar o alimento que nos sustém. É também invocada pelo povo para advertir aqueles que ousam rir-se da desgraça alheia, do desvalido, elevados à imagem do réptil que ondula sófrego em chão arenoso e inclemente. Pode ser este o epílogo a que somos tentados a escrever após percorrermos as obras aqui expostas. Mas não só.
Mas não só porque o Dito nos realça os pendulares ciclos das marés, que não raras vezes acolhem abluções e tumultuosos exorcismos religiosos de homens e mulheres que crêem expiar pecados mundanos, ou debelar mazelas, tormentos e sortes aziagas; nos projecta traços feitos lendas ou fábulas escutadas de menino; fontes de água que hoje rareiam e perigam a sobrevivência da espécie viva, e muito provavelmente porque se fez falir os mitos que as preservavam, como o de que são lugares sagrados para as almas privarem, e por isso de acesso vedado a comum dos mortais.
Mas não só porque o Fornasini nos recorda que é no vazar das marés que as colectoras se fazem à labuta diária, ao mesmo tempo que se cruzam com os consortes regressando da dura e penosa faina nocturna, em suas barcaças; nos faz ver o que seria um bebedouro em sinuoso rego de uma outra fonte da vida, a mulher.
Mas não só, igualmente, porque o Matxakhosa nos casa, criativamente, o pote, o grafismo temático e a sempre presente sensualidade feminina.
Trazendo-nos o que poucos sabem ou até imaginam sobre Hlengwene, a terra dos va Hléngwè,Matxakhosa revela-nos ou relembra-nos que só por lá faz sentido, verdadeiramente, chamar à água de precioso líquido.
Mas não só, finalmente, porque a Eliane, da longínqua Suíça, nos traz a água em ambiências de um país lacustre e de Invernos severos. Mas também de diversidades partilhadas e cultivadas para que se imponham pela diferença num mundo globalizado.
E em tudo, como em todos eles, tomando-se a ÁGUA COMO PRETEXTO!
Luís Loforte