Exposição de pintura de Miguel Levy
de 13 de Novembro a 13 de Dezembro
O que salta à vista, num primeiro relance, são as erupções de cores e texturas que resultam da justaposição de camadas de tinta e tecidos. Depois, num olhar mais cuidado se percebe que essas cores e texturas exploram a identidade dos personagens retratados. O que ali se exibem são retratos de pessoas que surpreenderam o artista nas suas deambulações pela cidade.
Esta é uma exposição que explora a experiência do artista plástico Miguel Levy, em Maputo. Uma experiência recheada de aromas, cores, vozes, vidas, realidades e marcas vistas com olhos virgens e despidos de pré-concepções de uma realidade urbana que ele mesmo desconhecia.
Levy não tem o olhar aprisionado pela rotina de ver todos os dias e nem com os mesmos olhos. Ao viajar pelo espaço dos seus personagens, passa a viver as suas histórias e a construir uma visão crua e natural de quem, como, onde e porquê são as pessoas desta cidade.
Ao longo da sua jornada, Levy foi perdendo partes de si e se impregnando de cores e expressões da gente que visitava. Aqui, nestas telas, conhecemos um artista que se recicla e recicla as imagens retidas em si, um artista que se desliga da sua identidade e se permite inundar pelo que lhe é servido aos sentidos, passando a entender estas novas cores depois jogadas à tela.
Os espaços em que já esteve são profundamente conhecidos e Maputo é essa nova casa, sem nada embutido e nem realidades possíveis de transferir. No final da viagem, o artista confessa pintar instintivamente “aquilo que não sei bem o que é”. Nesta descoberta da pintura ele se descobre a si mesmo. E nos ajuda a nos descobrir a nós.
O que nos é aqui apresentado, é a emoção quase-crua de uma cidade vista pela primeira vez e com olhos virgens. Levy é um caçador de expressões. Expressões de pessoas que sabem que são vistas e notam a existência de outros olhos mesmo ao longe. São pessoas que olham para dentro das outras, mesmo sem conhecer ou ter interesse em conhecer o outro. O seu olhar é, sobretudo, uma confirmação da existência do Outro. Eu olho para ti, tu existes. Essa bênção nasce da luz que emana dos rostos, dos olhares, dos corpos. E Levy sabe do quanto a luz nos pode tatuar por dentro.
Leocádia Valoi